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9 de novembro de 2019

Sagrado Masculino para Homens Sagrados


Quando foi a última vez que você recebeu um elogio e se sentiu bem? 

Quando foi a última vez que alguém te valorizou de alguma forma que não foi elogiando seu pênis, seu desempenho sexual, sua conta bancária, seu carro/casa/posse ou seu emprego? 

Quando foi a última vez que alguém perguntou se você estava bem e se precisava desabafar?



Nós homens passamos muito tempo da nossa vida construindo uma personalidade que supra as necessidades sociais que ensinaram para nós sobre o que é ser homem. E muitas delas são comandos básicos porém destrutivos para qualquer ser humano, como: 

- Tenha dinheiro. 
- Tenha tesão. 
- Tenha pau duro. 
- Tenha pau grande. 
- Seja homem! (Ou seja, nunca aparente nenhum traço de mulher, seja físico, gestual, estético ou emocional) 
- Tenha um emprego que cause inveja. 
- Tenha um carro. 
- Transe bastante e com o máximo de pessoas que puder. Quantidade é importante. 
- Não demonstre fraqueza (ou seja, jamais peça ajuda). 

Você conseguiria viver sua vida toda seguindo esses comandos? É impossível. É humanamente impossível. Todo ser humano precisa de processos emocionais, precisar chorar, precisa sentir. Nos é negado sentir e demonstrar sentimentos desde muito cedo. A maioria de nós nunca teve uma relação afetiva mínima com os nossos pais, que também nunca tiveram com os pais deles e assim por diante. Muitos de nós nem pai tiveram; afinal, aborto masculino é legalizado e historicamente aceito nas sociedades ocidentais. "Quem tem mãe não precisa de pai." 

Que pessoa aguenta isso? Precisamos direcionar mais afetividade para nós mesmos. Precisamos aprender a tocar nossos sentimentos. Graças aos Deuses, eu encontrei caminhos espirituais que me ensinaram isso de alguma forma. Meu crescimento e amadurecimento enquanto homem veio de uma maneira muito objetiva: eu não aceitava ser aquele homem que eu vi a minha infância e adolescência toda. Aquele homem que abandona, que bate, que xinga, que impõe medo, que abandona de novo, que fica calado e distante, que simplesmente some. Isso não era ser homem para mim. Meus Deuses me mostraram caminhos de redescobrir meu masculino e consequentemente meu Eu próprio.

Ser homem e ser homem pagão é ser livre. E eu abraço minha liberdade e as consequências que elas trazem. Eu quero muito viver num mundo onde homens se abracem, se cuidem e se apoiem como as mulheres estão aprendendo cada vez mais a fazer umas com as outras. Enquanto elas reaprendem a sacralizar sua sororidade (et. irmãs) nós continuamente profanamos nossa fraternidade (et. irmãos). 

Ser pagão é ser livre. E eu não aceitaria uma religião que me ensinasse a abusar das outras pessoas simplesmente pelo meu gênero. Eu não mereço isso. Você não merece isso. Nenhum homem merece isso. Ninguém deve aceitar ser mera ferramenta de dor de um sistema patriarcal falido e em colapso, que cada vez mais coopta homens feridos e tomados pelo medo para serem seu instrumento de proliferação de dor. Chega de dor. Nós somos importantes. Nós merecemos sentir. Os Deuses Antigos chamam os homens de volta para casa, para aprender a fincar raízes ou voar; a amar e a demonstrar, a sentir e a celebrar. Ser pagão é ser livre. E ser homem, também. 


Álex Hylaios

16 de outubro de 2019

Dicas mágicas de Autocuidado

Criei esse texto há uns bons anos atrás e um moço fofo das redes sociais me procurou atrás dele. Eu nem lembrava que ainda tinha ele salvo nos arquivos do antigo blog e resolvi publicar assim mesmo, do jeito que achei ;) (Mentira! Eu dei umas editadas aqui e ali porque eu escrevia mal e falava coisas que hoje considero besteira. hahaha).
Façam bom proveito! 



Vejo que um dos motivos das pessoas buscarem curas alternativas, meditação, Yoga, paz interior, são reflexos de válvulas de emergência que surgem por situações que não estão legais dentro delas. Um dos males que atinge nossa sociedade são os desequilíbrios emocionais, resultando em doenças que tentam nos fazer acreditar que não tem cura. Então criei esse passo a passo para pessoas que queiram buscar essa melhoria de vida em alguns aspectos: físico, emocional, mental e espiritual.

Um ditado japonês que adoro é: "Uma alma saudável, habita uma mente saudável, de um corpo saudável."

Temos uma missão perpétua e diária de manter nossos corpos, sentimentos e mentes em constante estado de equilíbrio. Fazendo isso vamos influenciar o mundo que está ao nosso redor. E para ajudar o mundo, precisamos primeiro ajudar as pessoas mais importantes nele: nós mesmos.
Então vamos lá:

Práticas diárias:

- Ao acordar, mentalizar e depois dizer em voz alta: "eu estou melhorando, sempre!". Traga essa energia pra sua vida, inspire ela em cada ato do seu dia. Independente se você não sente que está melhorando, traga isso pra sua vida e afirme isso em voz alta pra você mesmo todos os dias da sua vida, pelo menos três vezes ao dia. Quando alguém te cumprimentar e perguntar como você está, responda: Estou ótimo! Melhorando sempre! ou alguma coisa nesse sentido.

- Abençoe seus alimentos, sua roupa, sua comida. Ponha as mãos sobre eles e diga: eu abençoo esse alimento com energias positivas, de saúde, amor, paz, prosperidade e felicidade. (Ou qualquer outra energia que lhe agrade). 

- Alimente-se sempre de forma saudável e regular. Não fique longos períodos sem comer e não deixe de beber água. A saúde do seu corpo interfere profundamente na saúde das suas emoções, mente e alma.

- Pratique algum exercício físico que te dê prazer. Não adianta se matricular na academia se você odeia o ambiente e os exercícios da academia. Busque alguma atividade física que te faça sentir aquela euforia gostosa da época da infância, quando você ia ao parque de diversões. Ou que te 

- Abençoe você mesmo todos os dias. Assim:
Ponha as mãos nos seus pés e diga: Abençoados são os meus pés que me guiam pelos meus caminhos
Ponha mãos nos joelhos e diga: Abençoados são meus joelhos que me sustentam com segurança
Ponha a mão sobre seu ventre/falo e diga: Abençoado seja o meu sexo, sem o qual não existiria vida
Ponha a mão sobre seu peito e diga: Abençoado seja meu coração, receptáculo das bençãos universais
Ponha a mão sobre os lábios e diga: Abençoados sejam os meus lábios que espalham palavras de harmonia
Ponha a mão sobre seus olhos e diga: Abençoados sejam meus olhos que veem toda a beleza do universo
Ponha a mão sobre sua testa e diga: Abençoada seja minha mente que conhece a sabedoria e o amor 
Passe a mão da sua cabeça até seus pés dizendo: Abençoado sou por um todo, pois vivo no amor dos deuses/pois vivo no amor universal.

- Evite os pensamentos negativos. Quando vierem diga pra si mesmo: Eu me mantenho firme e melhorando sempre! Meus medos passarão e eu resistirei a eles. E quando houverem passado, somente eu restarei. Mais forte e melhor que antes.
Repita esse mantra sempre que necessário, até decorar.
(Pensamentos negativos podem ser reflexos muito importantes de algo que precisa de atenção dentro de nós. Faça o exercício mantendo em mente que não quer ser controlado e influenciado por eles, mas não finja que eles não existam! Sempre invista em ajuda profissional). 

- Tenha pensamentos amorosos com as outras pessoas. Pense que elas podem estar numa situação pior que a sua e que você não faz ideia de qual seja. Coloque-se no lugar das outras pessoas e aprenda a enxergar o mundo pra além da sua visão pessoal. Saiba que assim como você precisa de ajuda, você pode ajudar. Assim como você precisa de cura, você pode curar. Assim como alguém pode deixar seu dia bem melhor com um simples sorriso e bom dia, você pode transformar a vida de alguém com esse gesto. Permita-se ser um(a) gerador(a) de boa influência. O mundo precisa disso. E o que entregamos ao universo, ele nos devolve em dobro, triplo, quíntuplo, depende da lei universal que você acredita.  😛

Práticas semanais:

- 1 vez por semana tome um banho de ervas feitas de: alecrim, artemísia, sálvia, rosa branca e canela. Faça isso durante um mês. Serão 4 banhos. Este é um banho de limpeza e fortalecimento energético e espiritual. Sempre que tomar o banho visualize uma energia vermelha de amor, força e perseverança preenchendo seu corpo e te limpando das coisas ruins.

- 1 vez por semana pegue uma pedra qualquer da rua. Segure-a na sua mão e diga:
"Esta pedra leva embora
Tudo de ruim que em minha vida possa estar
Ao devolvê-la ao chão,
A Mãe Terra vai me trazer paz e me revigorar."  

Sinta que tudo de ruim da sua vida passa pra pedra e você a joga em algum lugar da terra ou em um rio de água corrente. Não deixe essas pedras dentro de casa, faça isso em algum lugar ao ar livre, de preferência na natureza. Pode ser em uma praça ou bosque da sua cidade. 

- Faça algo que te dê prazer. Tire um tempo pra ler um livro que você queira e/ou goste, vá ao cinema sozinho, aprenda a sentir prazer e conforto com a sua própria presença.

- Faça algo de bom pra algum desconhecido. Pode ser dar uma flor pra alguém que esteja passando na rua, oferecer uma mensagem de felicidade ou simplesmente sorrir pra alguém que você não conhece.

Dicas:
- Alimente o desapego em todas as áreas da sua vida.
- Destrua todas as suas expectativas em relação as outras pessoas; aceite-as e ame-as com o que elas tem a oferecer e não pelo que você espera que elas ofereçam. (Mas não seja feito de trouxa por favor!)
- Crie metas e trabalhe diariamente para concretizá-las.
- Sempre esteja aprendendo algo novo. Deixar sua mente em expansão é se abrir para novos horizontes de possibilidade.
- Ame sempre. Você mesmo e as pessoas ao seu redor.
- Não faça nada por obrigação. Busque sempre aquilo que te traz plenitude e alegria. Se você não pode mudar de um trabalho que não te dê prazer, crie metas que o levem a encontrar o seu trabalho dos sonhos. Assim como para qualquer situação que te coloque essas imposições.
E o mais importante:
- Aprenda a agradecer sempre. De forma sincera. Essa é uma das magias mais poderosas que existe no universo.
- Não alimente a inveja.
- Não permita que a negatividade te domine.
- Busque a liberdade interior e exterior sempre.
- Se afaste de crenças limitantes, que te apavoram, aprisionam, te deixam ansioso ou com mal estar.

Dentro de 1 mês seguindo essas práticas, você deve notar melhoras. É um processo de fortalecimento espiritual, mental e pessoal que precisa ser contínuo, disciplinado e praticado. Você é livre para adaptar essas práticas como bem entender e fizer mais sentido pra você. 😁

Seja feliz acima de tudo. Os Deuses nos trouxeram até aqui pra experimentar todas as alegrias da Vida. A única coisa que merecemos desde que nascemos é a Felicidade. Essa é uma benção pública, democrática e de livre acesso a todos aqueles que estiverem buscando.
Pois então levante a cabeça, sorria para as dificuldades e dê o melhor de si!

"Quando a pessoa tem força de vontade, os deuses sempre dão uma ajuda." - Ésquilo

Álex Hylaios.

14 de outubro de 2019

O (que não é) Sagrado Masculino

Homens indígenas brasileiros, em manifestação de 2017 em frente ao STF.

O Sagrado Masculino, Divino Masculino ou a Cura do Animus são termos que fazem referência a um trabalho de cura e reequilíbrio da psique masculina. Esse tipo de trabalho tem um foco específico em trazer a tona traumas, bloqueios, gatilhos de ódio/medo/raiva/imaturidade e comportamentos abusivos masculinos e entender o que existe por trás desses aspectos desequilibrados. Esse movimento surge em paralelo e pouco depois do movimento amplamente conhecido e divulgado que é o Sagrado Feminino. Essas concepções surgem graças ao trabalho de Carl Gustav Jung que influencia enormemente os movimentos espiritualista pós-contracultura na Europa e nos EUA. A ideia de um arquétipo masculino íntegro e equilibrado em junção de um trabalho conjunto de sua contraparte feminina é algo que desperta estudos, workshops e vivências, principalmente na América do Norte. Ao longo dos anos de 1980-1990 se consolida nos EUA o chamado “Men’s movement” (Movimento masculino), que possui como expoentes David Tacey, Raewyn Connell, Robert Bly, James Hillman, Michael J. Meade, Sam Keen, Robert L. Moore, Stephen Biddulph, Robert Jensen, Jackson Katz, Don Edgar, Michael Messner, entre outros. Eles defenderam diversos modelos de libertação masculina, dentre eles vivências arquetípicas de homens, suas jornadas interiores e espirituais possibilitando ao fim, a cura das feridas do masculino, buscando o resgate do que se chamou de “masculino profundo”. Esse masculino profundo seriam as experiências libertárias e saudáveis que homens nas sociedades tribais e pagãs vivenciaram, por meio dos ritos de passagem, da divisão de trabalho, da comunhão emocional que era partilhada entre os iguais e do empoderamento do homem por meio do reconhecimento social adquirido naqueles espaços e ritos.

Hoje não vivemos numa sociedade que promove os ritos de passagem. Vivemos numa sociedade que consagra o menino-homem pelas inconsequências, irresponsabilidades, infantilidades e comportamentos tóxicos. Vivemos numa sociedade de meninos-homens mimados. Eles são os políticos, os CEOs, os grandes executivos do mercado financeiro, os senhores da razão. E é exatamente esse culto a razão que levou adeptos do Sagrado Masculino a explicar que essa é uma das raízes e males que atingem a psique masculina atualmente. A razão em detrimento da emoção, classificando a primeira como algo bom e masculino e a segunda como algo ruim e feminino. Esse discurso foi profundamente reforçado e enraizado após Descartes expressar sua máxima “Penso, logo existo”, e nesse contexto, a razão atinge um patamar de supremacia e é absorvida na estrutura social do patriarcado que a utilizou amplamente para desqualificar qualquer traço ou característica que remetesse ao feminino. Algumas perguntas para pensarmos juntos:

Por que os homens têm tanta dificuldade em ceder poder, controle e território para outras pessoas, principalmente mulheres? De onde vem a ameaça inconsciente do poder feminino? Por que a figura feminina assusta tanto os homens a ponto de levá-los em comportamentos supostamente autopreservacionistas ou conservadores mas, que no fundo, estão alimentados por um machismo patriarcal que prioriza a dominação e predominância masculina absoluta? Quais foram os processos sociais e históricos que levaram os homens a essa atual disruptura psicossocial nas relações interpessoais? Por que falamos para nossas garotas que elas na adolescência já são extremamente maduras e ensinamos que meninos da idade delas ainda são apenas isso, meninos? Por que exaurimos as mulheres desde a infância com responsabilidades domésticas, burocráticas, sociais, de procriação, de cuidado consigo, com os outros, com o mundo ao redor delas e para os homens dizemos “Garotos são só garotos”? Inclusive isentando-os de responsabilidades e transferindo-as para as mulheres ao redor deles, geralmente mães, tias, irmãs, amigas ou namoradas.

Esses questionamentos me acompanharam desde muito cedo na minha vida religiosa. O Sagrado Masculino veio paralelo aos meus primeiros contatos com o Deus Pan e o arquétipo neopagão do Deus de Chifres. E eu me apaixonei pelo tema, pelo nível de profundidade e urgência que eu senti, muito conectados a essa mudança e melhoria do comportamento masculino em nossa sociedade. Mais algumas perguntas que me acompanharam e compartilho com vocês: por que é tão difícil para homens exclusivamente heterossexuais, aqui no Brasil, se sentirem representados pelas religiões neopagãs, principalmente a Wicca? Por que a figura de uma Deusa não causa neles a mesma liberdade e empoderamento que eu sinto? Por que os Deuses ficam em segundo plano e sua mitologia profundamente empoderadora não é trabalhada na mesma intensidade que a mitologia das Deusas em grupos pagãos? Por que homens gays se sentem confortáveis em reproduzir machismo mesmo numa religião que promove um ambiente que estimula a acabar com esse tipo de comportamento tóxico? Já conversei com algumas sacerdotisas e sacerdotes mais antigos na caminhada do que eu, e comentaram sobre temas gerais que sinto que podem ter a ver com esse fato; alguns dos pontos que me chamaram a atenção foram:

– Homens héteros estão numa zona de conforto, mesmo dentro do neopaganismo ou ocultismo.

– Diversos caminhos que não questionam essa supremacia masculina estão a disposição deles;

– Ainda temos pouca divulgação de temas filosóficos ou sociais que são caros ao neopaganismo, como a defesa do meio ambiente, das minorias, da pautas de sustentabilidade e economia solidária; não atingimos uma enorme parte da população;

– A bruxaria é herética e rebelde, o neopaganismo nem tanto. Mesmo assim, em ambos os discursos opressores encontram terreno fértil;

– Somos parte de uma religiosidade composta por pessoas de classe média ou classe média alta. Não é um espaço onde a população da periferia, da classe mais pobre se vê representada. Nosso discurso não os alcança e/ou atinge espiritualmente.

– Nosso discurso está voltado para as elites e principalmente para as elites brancas que são as principais expoentes desse machismo patriarcal e dos discursos opressores estruturados na atual sociedade;

É nesse contexto que vejo a dificuldade de homens num geral se engajarem num processo revolucionário e libertário de transformação pessoal. O homem hétero, cisgênero, machista, patriarcal e todos os outros substantivos possíveis aqui, simplesmente não lida com essa demanda, não percebe essa necessidade. “O que os olhos não vêem, o coração não sente”. Outro ponto, e aí eu falo da minha realidade, é sobre os homens gays no neopaganismo e na Wicca. Eles se sentem profundamente empoderados pelas descrições míticas das Deusas, sua independência, seu acolhimento, sua autossuficiência e vivenciam sua espiritualidade por meio Delas. E é simplesmente uma das coisas mais lindas que eu já vi e vivenciei. Um jovem gay que se sentiu completamente ignorado, abandonado e rejeitado espiritualmente pelas religiões abraâmicas; porque é isso que essas religiões fazem com qualquer um que se não se enquadre no status quo do patriarcado, se identificando com a Wicca, nas figuras das Deusas e sentindo que finalmente encontrou um local que ele pode se sentir seguro para expressar sua personalidade, sua sexualidade de maneira sagrada e desenvolver sua espiritualidade. Mas muitos desses jovens são o que comentei, gays. Eles são homens cisgênero que mesmo sendo gays, vivenciam uma enorme gama de privilégios e superioridade masculina pelo simples fato de se identificarem como homens. E a maior parte também é branco. E a maior parte ainda reproduz discursos racistas contra as religiões de matriz afro. Nós reproduzimos o machismo estrutural tanto quanto os homens héteros. Sim, eu também já vi acontecendo e já reproduzi e provavelmente continuarei reproduzindo, porque, mesmo que eu me monitore 24h por dia, 7 dias por semana, eu sou um homem cisgênero, eu estou dentro de uma sociedade estruturada no patriarcado e no machismo. O machismo, assim como o racismo estrutural são isso, hábitos de comportamentos, atitudes e pensamentos que estruturam as ações de determinado grupo de pessoas. Nós brasileiros, somos profundamente machistas, racistas e misóginos. Herdamos uma cultura profundamente racista, machista e misógina dos europeus. Está na história do nosso país e na construção cultural que nós experienciamos até os dias de hoje. E só mudaremos isso mudando a nós mesmos.

Como lidar então com esse cenário? Como trazer uma reflexão provocativa mas que ao mesmo tempo seja acolhedora para promover um processo de cura?

O principal passo é reconhecer. Se encontrar.

Enxergar quais são os seus comportamentos que reproduzem o machismo e as feridas do patriarcado em níveis macro e depois perceber no microcosmos, no seu dia a dia, na construção da sua personalidade atual, como você se vê como agente reprodutor do discurso do opressor. Afinal, para qualquer processo de autoconhecimento, reconhecer os obstáculos que nos estagnaram até aqui é essencial. Não ocorrem mudanças sem questionamentos. E depois busque ajuda. Converse com seus amigos homens; héteros, homos, cis ou trans (sim, homens trans também reproduzem tudo o que eu comentei acima, afinal são homens). Nós homens precisamos resgatar a habilidade de construir laços colaborativos e não competitivos. A competição certamente é um dos hábitos que mais alimenta o status quo da nossa realidade de desequilíbrio.

Saiba de onde você fala.

Leia o mundo ao seu redor. Veja como nós homens aqui no Brasil, em Portugal, ou países lusófonos, ou qualquer país do planeta atualmente, somos privilegiados. Reconheça o privilégio. Veja que mesmo homens gays desfrutam, por exemplo, de uma liberdade sexual extremamente acima da média, principalmente em comparativo com as mulheres. Converse com suas amigas. Veja o que elas acham sobre o assunto. Converse. Muitos de nós homens perdemos ao longo do tempo a capacidade de conversar e entender os pontos de vistas das pessoas. Não alimente a competição. Alimente a colaboração e a diversidade.

Ame o diferente.

Um masculino saudável exulta em meio a diversidade, se alimenta dela e a amplia. Um masculino ferido castra a diversidade ao máximo. Pois ao invés de curar sua ferida, ele simplesmente a esconde e faz as pessoas acreditarem que essa ferida é algo normal, aceitável e normatizado. Então o patriarcado normaliza as doenças psicoemocionais dos homens, normaliza suas dores, normaliza seus medos, anseios e traumas. E num processo de adormecimento, o homem regride aos comportamentos infantis de exigir e ser atendido imediatamente. E infelizmente, nós enquanto sociedade, estamos atendendo a essas exigências nesse exato momento: acreditando que o petróleo é essencial para nossa soberania e portanto, não investindo em modelos de geração de energia sustentável; tratando o meio ambiente, a fauna e a flora como insumos comerciáveis como se fossemos os únicos com direito de desfrutar da Natureza e seus recursos, desconsiderando completamente as outras formas de vida da Terra. Abusamos das pessoas mais pobres utilizando e sustentando um modelo social que privilegia 2% da população global em detrimento dos outros 98%… e os exemplos continuariam.

E por que do título? Atualmente vivemos numa era dos extremos. Existem grupos e movimentos que se denominam focados na cura e no resgate do masculino e de sua espiritualidade, mas que na essência pregam uma supremacia de machos alfa, ensina que mulheres foram feitas para procriar e servir aos homens, deturpam mitos pagãos para justificar suas teorias misóginas e fascistas e acabam arrebanhando milhares de jovens ao redor do mundo. Idolatram nazistas, supremacistas raciais e líderes autoritários. Um dos expoentes desse movimento é pagão, se utiliza de rituais que honram os deuses nórdicos, se utiliza de uma interpretação pessoal sobre os mitos e sociedades pagãs e defende uma supremacia masculina que o homem supre todas as necessidades do homem, inclusive sexuais. Sim galera, esse camarada é abertamente gay e profundamente heteronormativo, defende a subjugação das mulheres fazendo uso de discursos extremamente preconceituosos e eu diria até criminosos, e arrebanha milhares de homens que vêem nele, um exemplo de macho alfa a ser seguido. O masculino precisa de cura, sim. E com certeza não é abusando e atacando as pessoas, a cultura, a diversidade e o meio ambiente que iremos atingi-la.

Sejamos livres como Pan; sigamos o pragmatismo selvagem de Freyr; abusemos apenas dos prazeres da boa fortuna como Exú; saibamos a hora exata de agir e de esperar como Oxóssi; vamos nos posicionar como protetores dos que amamos como Dioniso e Apolo; vamos garantir a segurança dos nossos como Dagda; vamos aprender a inovar como Lugh; vamos ser inventivos e meditativos como Pan-Ku e Yù Huáng, o Imperador de Jade; vamos ser pacientes e amorosos como o Búfalo Branco, sejamos audaciosos como Tupi, honremos a Shakti universal como Shiva, guardemos os segredos como Djehuty e Tsukiyomi-no-Kami, honremos a verdadeira Verdade como Hermes e Loki, busquemos o desconhecido como Odin, corramos e aprendamos com os lobos como Ares. Que possamos honrar nossos pais e avôs que carregaram e causaram tantas dores, feridas e privações para que pudéssemos nos tornar homens melhores, eles sabendo disso ou não. E acima de tudo, honremos àquelas que são as Deusas em nossas vidas.

Honremos o Sagrado Feminino.

Abandonemos as certezas. Abracemos o desconhecido e arrisquemos novamente. O Sagrado Masculino é sobre ousadia, amor e exploração. Vamos juntos! 🙂


Referências e dicas bibliográficas:
– American Masculinities: A Historical Encyclopedia. Bret Carrol.
– Sacred Paths for Modern Men: A Wake Up Call from Your 12 Archetypes – Dagonet Dewr.
– King, Warrior, Magician, Lover: Rediscovering the Archetypes of the Mature Masculine – Robert Moore and Douglas Gillette.
– The King Within: Accessing the King in the Male Psyche. Robert Moore.
– The Warrior Within: Accessing the Knight in the Male Psyche. Robert Moore.
– The Magician Within: Accessing the Shaman in the Male Psyche. Robert Moore.
– The Lover Within: Accessing the Lover in the Male Psyche centers. Robert Moore.
– Path of the Sacred Masculine: Contemplation Tools for Your Journey – Karen Kiester and Keith H Johnson.
– The Hidden Spirituality of Men: Ten Metaphors to Awaken the Sacred Masculine – by Matthew Fox.





Álex Hylaios.

6 de outubro de 2019

Laboratório do Sátiro

E aí pessoal!

Dando continuidade a uma ideia que tive há muito tempo atrás, venho divulgar e convidar quem tiver interesse de participar comigo de um grupo de estudos e práticas sobre o Deus Pan e Bruxaria. Será um grupo online com duração aproximada de 3 meses, podendo se estender mais um pouquinho caso o grupo sinta a necessidade.  A ideia é dividir alguns dos materiais que eu já produzi sobre Ele em um mini trabalho em grupo e ver os resultados que saem dali. As atividades vão ocorrer semanalmente, uma vez por semana, totalizando então 12 semanas de trabalho prevista. Outra ideia dentro desse projeto é que no final, divulguemos pro público o que produzirmos de aprendizado em grupo, criando uma base de materiais que podem ser utilizados como ferramentas de contato com o Pan.

Eu também criei um canal no Telegram onde irei postar textos, áudios, ideias, resultados desse projeto, meditações e materiais sobre Pan, deuses de meu culto e insights sobre paganismo, vida e bruxaria.  Quem quiser acompanhar entra lá! https://bit.ly/2AOYf1o 
O papo por lá vai começar no dia 12 de outubro. 


Para quem quiser participar do projeto "Laboratório do Sátiro", me procure pelo facebook, email, messenger ou whatsapp que irei lhe passar mais informações. As vagas são limitadas! Pra um bom andamento e partilha de resultados. 

"MAS ÁLEX CADÊ SEUS CONTATOS!?!?!"


Calma bb. Tá aqui: 


Email - alexhylaios@gmail.com
Whatsapp - 61 981092615
Telegram - @Giivago

Venham participar, divulguem para os seus contatos que vocês acreditam que gostariam de participar e vamos juntos! Qualquer dúvida falem comigo. 😁


Álex Hylaios.

Meu Ambientalismo na minha Espiritualidade

Talvez nem todos saibam, mas eu comecei minha jornada como educador ambiental aos 13 anos de idade. Naquela época, havia um programa do governo federal chamado "COMVIDA - Comissão de Meio Ambiente e Qualidade de Vida nas Escolas", que visava desenvolver uma espécie de grêmio estudantil ecológico nas escolas brasileiras. Qualquer um podia participar, alunos, professores, equipe administrativa, pedagógica, comunidade escolar num geral, pais, vizinhos de bairro, enfim, qualquer um que tivesse interesse de se envolver com o cotidiano escolar. Na minha escola começamos um projeto de horta bem simples mas que em poucos meses estava abastecendo não só o cardápio da merenda escolar mas também algumas famílias que moravam ao redor do colégio e sabiam que tínhamos uma horta bem grande e produtiva. Ver aqueles resultados levou eu e outros colegas a nos engajarmos ainda mais na luta em defesa do Meio Ambiente.

Existe um grupo de jovens educadores ambientais no Brasil que surgiu em 2003 e atua até hoje com a pauta da formação e empoderamento  de jovens nas questões ambientais. Eles são os Coletivos Jovens de Meio Ambiente e estão à frente da pauta de juventude e meio ambiente no Brasil há quase duas décadas. Jovens entre 15 e 29 anos que investiram suas vidas em prol da causa ambiental. Encontrá-los na época da implantação das COMVIDAs nas escolas foi um misto de espanto, alegria e receio. E só depois eu percebi que se tornou uma sensação de volta pra casa indescritível. E ali dentro do grupo eu me tornei "full" ambientalista. Eu simplesmente amo ensinar. Desde novo. Comecei ensinando pelos vídeo games (e não parei até hoje), depois ensinei inglês e português para os amigos e quando a Educação Ambiental me encontrou eu me encontrei nela e ensinei ela em escolas, empresas, movimentos sociais e políticos e sociedade civil. E venho fazendo isso por 13 anos ininterruptos 😁

Essa jornada toda me levou aos questionamentos sobre espiritualidade. Eu também joguei muito RPG e foram neles que eu descobri os druidas e a espiritualidade ligada à Terra.  Nisso tudo, desde muito novo, eu também já tinha a figura de Pan no meu horizonte espiritual. Foi relativamente fácil vincular todas essas coisas numa caminhada só e perceber como eu posso continuar nessa jornada como pagão e ambientalista, unindo o útil ao agradável. 

Anhangá
Hoje vivemos uma necessidade urgente de engajamento nas questões ambientais, principalmente do nosso país. Qualquer pessoa que nunca tenha se interessado pelo tema já ouviu falar pelo menos uma vez sobre e sabe da possibilidade de vivermos em breve uma crise global por conta da destruição ambiental que nossa espécie provocou e causou no planeta. 

Aqui no Brasil nós temos diversas possibilidades de trabalho social, ambiental e mágico. Mitos e espíritos indígenas, a energia dos orixás, a sacralidade e antiguidade dessa terra que habitamos.

Meu sonho é conseguir provocar, instigar, ajudar, caminhar ao lado, e também aprender com outros bruxos, pagãos e ambientalistas dentro da jornada espiritual sobre continuar trabalhando e se engajando em prol da nossa Casa, o Planeta Terra.

Vamos juntos?

Álex Hylaios.
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