O que o Louco aprende com o Carro? - Sátiro Urbano
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4 de dezembro de 2019

O que o Louco aprende com o Carro?



Sobre a questão de que qualquer variante vale para uma leitura oracular. Ou, porque eu não gosto de aplicativos de Tarot. (Ou, sobre o que o Louco aprende com o Carro.)


Há uns tempos eu concordaria 100% com a afirmação de que até uma parede em branco serve como variante para se oracular. Mas hoje em dia depois de acompanhar alguns postulantes à tarólogos e depois de alguns erros crassos em leituras que eu fiz, eu cheguei a conclusão que essa afirmação é válida até certo ponto. A principal variante de uma leitura oracular é a intuição do próprio oraculista. Essa é uma verdade na maioria dos caminhos oraculares que dependem em maior ou menor grau de uma aproximação pragmática com o oráculo. No caso do Tarot, temos em mãos um dos oráculos, senão o maior de todos os oráculos, com nenhum ou quase nenhum tabu em sua leitura. Ele funciona, simples assim. Para qualquer pergunta feita, o Tarot terá uma resposta dada. Mas e quando erramos a pergunta, onde está o problema? As respostas mais prováveis são; 1: a pergunta foi feita de forma burra/errada - e essa é facilmente identificável por um tarólogo experiente. 2: o tarólogo deixou seu ego/inseguraça/indecisão/limitação/etc interferir na análise da resposta - muito mais comum do que imaginamos, seja porque o tarólogo tem uma leitura rasa, pouco treinamento ou simplesmente porque ele não estava em um bom dia. 3: o cabresto que a ferramenta impôs a intuição/capacidade de leitura do tarólogo foi maior do que a mesma seria capaz de superar - e é por essa variante que eu não uso certos métodos de leitura oracular. Não porque não funcionam; mas sim porque não funcionam tão bem quanto funcionariam se eles não fossem o meio de leitura NAQUELE momento. Explico, e utilizarei o arcano do Carro para desenvolver minha ideia. 

O Arcano VII possui uma simbologia básica bem objetiva: uma pessoa forte, empoderada, altiva, visivelmente saudável e focada, conduzindo dois cavalos; geralmente de cores diferentes, um branco e um preto. Os cavalos representam os impulsos que guiam o condutor do Carro; seguindo a lógica da Jornada do Louco, seria o próprio Arcano 0 decidindo qual rumo seguir, orientado por seus dois cavalos, de nomes: Razão e Emoção. 
Essas são as variantes (i)limitantes da leitura do oraculista. Razão e Emoção. Quando se parte da ideia de que qualquer variante é possível e qualquer ferramenta também, em qualquer momento do dia/mês/ano; ele começa a ver sinais e mensagens em qualquer balançar de folhas. Bateu uma brisa? É a resposta para a minha pergunta. E pode até ser, sem sombra de dúvidas. Mas e se for uma resposta complexa, cheia de variantes internas/externas que sua intuição não foi treinada a perceber através de uma simples brisa? Mesma coisa para um exemplo oposto. Quando se limita a leitura oracular a uma forma unicamente objetiva e que tem variantes externas a intuição do oraculista (por exemplo, o código-fonte de programação criado pela pessoa que elaborou o aplicativo), ela perde grandes possibilidades de profundidade que a intuição seria capaz de provocar. A leitura fica enviesada. É a típica resposta: você é assim porque seu signo é Áries.
A biga, símbolo tradicional do Arcano 7 que representa o veículo utilizado para se chegar a um objetivo, se puxada demais para um lado se destroça, porque a força inversamente proporcional provocada pelo outro lado, vai aplicar uma lei básica da física. Os condutores de bigas egípcios eram profundamente temidos pelos seus inimigos, pois eles sabiam da dificuldade de se opor a força de uma biga conduzida corretamente; principalmente por conta das diversas defesas que ela possuía contra flechas, lanças, espadas e cavaleiros num cavalo só. A única chance dos guerreiros em derrubar uma biga era desequilibrar um lado dela, geralmente atingindo um dos cavalos, ou causar dano diretamente ao condutor. 

Nessa perspectiva, porque eu não acredito que todas as formas de oráculos funcionam 100% do tempo para todas as pessoas? Simples; porque a pessoa muda. O oraculista muda. Ele varia. E sua intuição junto. E assim como a pessoa muda, muda o arcabouço de símbolos, filtros e de intuição; muda a percepção gerada naquela hora. 
Assim como o condutor do Carro precisa manter um equilíbrio entre sua razão e sua emoção para seguir rumo a um objetivo concreto, nossa intuição precisa ser estimulada e não limitada pela forma oracular que você decide utilizar. 
Se o condutor não sabe para onde quer ir, não adianta ter a melhor forma oracular possível que sua dúvida não será respondida. Assim como será se o condutor for experiente, estiver num bom dia, com sua intuição afiada e sabendo exatamente onde quer chegar; não serão dois cavalos de madeira que o levarão rumo ao objetivo. A limitação atuando sobre a sua intuição, seja ela interna ou externa, é o que conta no final. Tocar as teias do destino exige responsabilidade, sobre si e sobre os que chegaram até você. Seja responsável e isso significa ser atencioso e cuidadoso com as mensagens geradas, principalmente se for pra você mesmo. 

E nem falamos de outras variantes... porque quando o Carro chega a seu destino, ele enfrenta a consequência direta por ter escolhido àquele caminho; a Justiça, entregando justa retribuição pelos atos que o levaram àquela escolha. 

E não é o Carro que você escolheu que dirá se a retribuição será boa ou ruim. 

Álex Hylaios.

Conversas de um sátiro que mora na cidade sobre vida, cotidiano, magia e paganismos. Senta na grama mesmo!

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