O Grove de Pan - Sátiro Urbano
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26 de março de 2018

O Grove de Pan


"There and Back again..." - Bilbo Baggins (Tolkien)


"Sejam bem vindos, filhas e filhos da Floresta. Cá estamos nós de volta outra vez."
Pelo menos seria assim que eu imaginaria Pan dizendo aos seus caso o encontrássemos em alguma andança pelo meio do mato. Este blog tem uma data antiga, de um projeto antigo e com uma execução nova. Nasceu em meados de 2007/2008 sob o nome de "Sátiro na Cidade", com o intuito de criar um espaço para discutir, compartilhar e trazer informações sobre Bruxaria, Paganismo, Reconstrucionismos, Magia Draconiana e mais uma porção de coisas que eu (Álex) gostava, estudava e/ou praticava na época. Ah, e na época eu tinha uns 14 anos. Quem nunca fez um blog no auge da inclusão digital não é mesmo? Também nesse período eu já estava me debruçando nos garimpos da internet atrás de informações sobre esses temas que eu gostava e um deles sempre foi o meu farol: Pan. Por isso executar essa ideia agora; reformulei o espaço, apaguei coisas antigas e vou reconstruir um novo blog. 

Quem me conhece pessoalmente sabe que sou introvertido, mais calado, mais na minha. Uma imagem que os amigos virtuais tem dificuldade de assimilar pois sempre acham que sou extrovertido, falador (essa parte é verdade) e super chato (essa parte é mentira *risos*). Infelizmente não tem como construir essa introdução sem falar um pouco sobre mim - apesar de que o que eu quero com esse espaço é torná-lo literalmente o que o sub-título se propõe: um Templo virtual em honra ao Deus Pan, ao Sagrado Masculino e toda a sorte de informações sobre. 

Comecei desde aquela época a reunir materiais sobre Pan e sobre suas formas de culto, sua trajetória desde a Antiguidade, até sua apropriação de imagem na Idade Média para a construção da figura do Diabo, seu deleite ao cair nas graças dos poetas do romantismo inglês da época da renascença; até os dias atuais, onde o Neopaganismo e a Bruxaria reafirmaram a figura do Deus de Chifres e o colocaram em contraposição a um masculino ferido, opressor e castrado que as religiões monoteístas pregam. E foi isso que me trouxe para o Neopaganismo como um todo: o Deus de Chifres. Ou pelo menos, o seu Chamado.  

É comum aos wiccanos ouvirem falar no chamado da Deusa. Aos leitores de "As Brumas de Avalon (M.Z. Bradley)", "The White Goddess (R. Graves)", "O Poder da Bruxa (L. Cabot)" ou diversos outros clássicos neopagãos que auxiliaram na ascensão e crescimento da Bruxaria moderna no ocidente, o "Chamado da Deusa" é algo presente, real, pulsante; que levou mulheres e homens a recobrar uma parte deles mesmos que ficou esquecida no folclore europeu, nos mitos clássicos da antiguidade ou nas zonas marginais da nossa sociedade. As pessoas relembravam, escutavam e estavam enfim, respondendo ao chamado Dela. Uma bruxa me ensinou uma vez que assim como a Lua tem suas fases, a Deusa também tem seus ciclos. Estaríamos atualmente vivenciando um momento histórico onde a Deusa sai de seu estado de "Lua Nova/Negra" para entrar no seu momento de Lua Crescente. E Ela não veio sozinha. 

Assim como em um ano nosso planeta tem 365 dias, 12 meses, 4 estações, 13 luas cheias, dia e noite; a Deusa tem ao Deus (na perspectiva wiccana). Uma divisão de calendários Lunar/Solar. E assim como não vivemos 24h sob a luz da Lua o Sol, o Sagrado Masculino para diversas culturas pagãs, voltou com Ela. E não um masculino opressor, que nega e subjuga o feminino. Mas sim um Masculino Selvagem, Provedor, Livre. Um masculino Pagão. E então, como a Deusa cantou para suas filhas e filhos se encontrarem sob sua luz e compartilharem dos mistérios, ela contou sobre Aquele que foi seu primeiro Amante, seu amor sob todas as formas. Aquele que junto Dela, cria e recria a Vida. E ao contar sobre Ele, a Deusa percebia uma mudança nos corações dos que ouviam. O ritmo acelerava, o suor, os calafrios, o instinto e batidas ganharam um novo significado. Ao ouvir sobre o Deus, os corpos das filhas e filhos da Deusa tremiam em êxtase ao sentir a energia do Sol, do prazer, do impulso criativo e libertador. E então, algumas dessas filhas e filhos perceberam que esse era também um Chamado; mas um chamado diferente do Dela, um chamado que era visceral, sexual, instintivo e primordial. Algumas das crianças ouviram então, o Chamado do Deus. 

Existe uma música muito bonita sobre o Chamado da Deusa, ela diz: 
"Ela espera, espera
Ela espera por nós 
Ela espera os seus filhos escutarem sua voz..." 

O Deus não espera. O Deus age. Ele vai atrás. Ele faz questão de que fique claro que quem decidiu não ouvir o chamado Dele foi você. E ele não desiste. 
No fim, você vive o nosso famoso ditado: "Se correr o bicho pega. Se ficar o bicho come". 
E como come *risos*. 

Os Deuses Pagãos voltaram. Almas antigas, novas, voltaram. E Ele voltou. O Grande Deus Pan voltou. Sem delongas, sem rodeios ou cerimônias a mais antiga figura arquetípica do Deus de Chifres está de volta, cantando e dançando nos corações daqueles que cederam ao seu chamado. E ele não vai parar. Enquanto a última árvore estiver de pé, lá Ele estará. Enquanto a última gota de água limpa, o último animal ou montanha estiver de pé, será Pan carregando sua mensagem. E Ele chegou. 

Pan gosta dessas coisas poéticas. Foi uma das primeiras impressões que Ele me passou, ainda no início do nosso contato. Ele me explicou que isso brinca com o cérebro das pessoas. Causa uma ilusão sobre elas, como se as hipnotizassem para que então absorvessem melhor aquela informação. Com o tempo eu descobri uma facilidade nata para fazer coisas rimadas e poéticas; e acabei direcionando isso para meu culto pessoal e devocional à Pan. Segue um trecho de uma canalização¹ que fiz Dele em 2014:

"E então aqui estamos novamente
Sem amarras, sem dores, sem correntes 
Nos encontramos de volta, uma vez mais 
E não nos separaremos de novo, pois vim para tirar sua paz

Quando vocês dormirem e sentirem medo, Eu estarei lá 
Quando vocês acordarem, Eu serei o suor a te encharcar 
Quando vocês tiverem medo, Eu serei seu medo 
Quando vocês quiserem a verdade, Eu a trarei, sem anestesia, sem efeito placebo 
E quando quiserem coragem, serei Eu trazendo ela, para seu corpo do medo se livrar

E então, quando suas forças não mais existirem para te fazer caminhar
Eu serei suas pernas, E eu irei te levar
Te levar para onde seu coração quiser ir
Te levar daqui para outro lugar

Até encontrarmos todos os outros. Que conosco irão caminhar." 


¹Canalização: é um processo energético onde o sacerdote dá voz para alguma divindade, sem perder completamente sua consciência. Parece com o processo de incorporação das religiões de matriz africana, mas se difere na forma pois uma canalização é sempre voluntária e com a permissão expressa do sacerdote/sacerdotisa para a divindade emanar de seu corpo.


Esta postagem nasce como um Grove. Um grove, em inglês, é um pequeno agrupamento de árvores dentro ou fora de uma floresta. Elas geralmente nascem juntas, se protegendo e se auxiliando em ventanias e tempestades. Seus brotos se espalham ao redor delas, crescendo e se beneficiando do efeito protetor das árvores mais velhas. 

Que vocês possam encontrar um lugar seguro e tranquilo para aprenderem, vivenciarem e compartilharem suas questões sobre o Deus Pan e o Sagrado Masculino. 

Blessed be! 


Álex Hylaios. 



Conversas de um sátiro que mora na cidade sobre vida, cotidiano, magia e paganismos. Senta na grama mesmo!

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9 comentários

  1. Excelente texto! Às vezes sinto falta de uma abordagem coesa sobre o Sagrado Masculino, assim, limpo de uma masculinidade tóxica, livre daquela ideia de "agressividade-tividade física-sexualidade incontrolável".
    Vou acompanhar o projeto com muita ansiedade!

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    1. Obrigado pelo feedback! Haverão muitas discussões sobre Sagrado Masculino, inclusive com outros sacerdotes que vivenciam o tema. Acompanhe sim! ;)

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  2. Gostei do texto e gostaria de conhecer mais sobre Pan. Inclusive faço uma alusão básica a Pan,mas não tenho fontes para aprofundar a respeito.

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    1. Obrigado pelo feedback! Logo logo teremos um tópico exclusivo de formas de culto à Pan, tanto na parte histórica quanto moderna. Acompanhe por aqui ;)

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  3. Pan não está morto!... Nem nunca esteve. Sucesso para o projeto!

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  4. Que texto mais lindo Álex, obrigado por compartilhar esse conhecimento conosco!

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  5. Adorei encontrar o Bosque de Pan! Acredito que nós homens precisamos curar nosso masculino! Alex! Vocês são de onde?

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